Fiquei muito feliz em reencontrá-la!
Éramos três amigas, três fiéis mosqueteiras que, no auge de nossa juventude, prometemos umas às outras não perdermos contato jamais!
Uma delas, a Paula, eu reencontrei há cerca de 6 anos e foi uma grande alegria! Desde então, procurávamos, juntas, pela nossa outra amiga. Na verdade, foi a Paula quem reencontrou a Ana Carla através das redes sociais.
Uma das grandes vantagens da internet: aproximar quem está longe, embora, em minha opinião, afaste quem está perto, pois preferimos enviar mensagens ou deixar recados em murais em vez de visitar um amigo ou, até mesmo, telefonar. Debates tecnológicos à parte, o fato é que nos achamos!
Motivada pela alegria desta descoberta, procurei fotos, antigos cadernos, telegramas, lembranças daquele tempo bom da juventude.
Achei uma foto de nossa formatura. Sentadas, uma ao lado da outra, sorrisos quase infantis, olhos cheios de sonhos, corações ainda em branco, ávidos por viver emoções e encarar, de fato, a vida adulta.
O álbum de formatura registra a data: 29 de Dezembro de 1989.
Fui a oradora da turma. Em um discurso inflamado e apaixonado, defendi o exercício e a importância do magistério no novo contexto político em que vivíamos e agradeci aos nossos pais e mestres pelo empenho e apoio, em todos os momentos. O que esperar de uma jovem de apenas 17 recém completos ( 16 dias antes da formatura ), além de amor, paixão, ideais e ideias em ebulição e efervescência, numa grande profusão de sentimentos?
Eu havia votado pela primeira vez naquele ano.
Fiz questão de tirar meu título de eleitor e votar, pois “afinal, uma outra ditadura poderia estar a caminho e eu poderia perder minha única chance de votar”.
Estreei como eleitora em grande estilo, votando para presidente . Apesar de meu candidato sair derrotado do sufrágio eleitoral, exerci minha cidadania, orgulhosa de minhas convicções e ideologias.
O país, pela primeira vez em duas décadas, respirava o ar da “suposta” democracia (talvez mais demagógica do que nunca , mas à época não sabíamos disto) e comigo não era diferente!
Com o mercado de trabalho, faculdade e a vida adulta acenando para nós, estávamos encantadas com o futuro!
Dominada pelas lembranças destes momentos, percebi então, pela primeira vez, que a data de 29 de Dezembro era e é uma ilustre conhecida minha, de outros momentos marcantes e igualmente inesquecíveis, mas não tão felizes e alegres como aquele dia da formatura.
Nove anos mais tarde, em 1998, naquele mesmo dia 29, nasceria meu primeiro filho. O que era para ser uma alegria transformou-se em pesadelo: meu menino nasceu prematuro, foi para a UTI e entrou em coma, no dia 31 de dezembro do mesmo ano. Graças à Misericórdia Divina , se recuperou e cresceu forte e saudável.
Foi exatamente em um dia 29 de Dezembro também que, dezessete anos depois da formatura, recebemos o diagnóstico de autismo de meu filho caçula. Dor, sofrimento e desespero novamente me encontravam na mesma data , como se o destino quisesse brincar comigo, me lembrando a todo instante que a felicidade é efêmera e composta APENAS e tão somente de pequenos momentos e NUNCA duradoura…
E se a Denise de hoje, com 41 anos, pudesse voltar no tempo e encontrar a jovem Denise de apenas 17 anos? O que eu diria a ela?
Contaria a ela tudo o que a esperava pela frente? Seria eu capaz de jogar seus sonhos por terra, empobrecendo seus arroubos juvenis e roubando o brilho apaixonado de seus olhos?
Diria à Denise, de outrora , o quanto sofro, muitas vezes calada, com medo do futuro, por causa do autismo de meu filho caçula?
Dividiria com ela a dor de ver a rejeição, a incompreensão das pessoas, o descaso da sociedade, a inclusão que acontece à “fórceps”?
Pediria a ela que me emprestasse seu ombro amigo, para que pudesse descansar meu corpo cansado das lutas e onde eu pudesse chorar, apenas chorar, para aliviar meu coração?
NÃO!!!
Contaria a ela o quão feliz ela seria, pois apesar de TODAS as dificuldades, eu diria a ela o quanto me orgulho do ser humano íntegro e sensível que ela se tornou. O quanto eu me orgulho de suas conquistas e de suas derrotas, de sua trajetórias e de seu caminhar.
Contaria a ela sobre o marido maravilhoso e companheiro que seu namorado (de apenas 1 mês) se tornaria! Sobre os dois filhos ABENÇOADOS que Deus lhe confiaria! Sobre a perfeição que ela iria encontrar na IMPERFEIÇÃO…
Por fim, abraçar-lhe-ia , com todo o meu amor e lhe diria: “Apenas siga em frente e faça tudo de novo, do mesmo jeito, sem mudar uma única linha. Saiba aproveitar cada momento, por mais singelo que ele lhe pareça, porque a felicidade é feita de momentos… E eu estou aqui, aproveitando cada MOMENTO mágico que Deus me proporciona!”
E você?
O que você diria a você mesmo, mais jovem, se isto fosse possível?